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terça-feira, 9 de março de 2021

Clariciando

[Marca-Texto]




Esse mês, eu já estava planejando publicar o Marca-Texto, inclusive porque esse ano ainda não havia sido publicado nenhum. E eu estava na cruel dúvida de qual livro eu abordaria, já que era o primeiro do ano.


Eu já havia feito minhas leituras, demarcado o que havia chamado minha atenção e necessário de compartilhar, separado os livros que supostamente eu publicaria e então começaria a produzir o formato da publicação.


Mas a duvida ainda me consumia, sobre qual deles eu falaria. Foi quando por coincidência, eu recebi um convite, da Poetisa Larissa Lorena, pruma homenagem ao centenário de Clarice Lispector.


Eu como já não creio em coincidência, na hora lembrei que "A Hora da Estrela", era um dos livros que eu havia separado para fazer a publicação do Marca-Texto. Então senti que era pra eu aceitar o convite, assim como conciliar minha participação no Clariciando (Homenagem ao centenário de Clarice.), ao Marca-Texto, dois coelhos com uma cajadada.


Na época em que li a "Hora da Estrela", me apaixonei pela autora. Inclusive foi o primeiro livro que li dela, meio surrado até, ou completamente, pois nem capa o coitado tem (risos). Eu não lembro bem de como ele chegou ao meu acervo (se eu lembrar prometo voltar aqui nas edições pra contar). Provavelmente algum dos livros que roubei (Como contei num dos últimos Marcas-Texto), ou algum amigo que trocou comigo, ou num dos que minha mãe mandou pra mim.


Lembro que quando o li, me chamou muita atenção mais de um trecho, aliás, o livro todo. Mas era como se em alguns trechos, ela estivesse como um fantasma mesmo, a ponto de me fazer arrepiar sua presença, nos meus ouvidos recitando, observando, descrevendo, me entendendo como nunca ninguém jamais havia feito. Ela explicou minha existência em apenas um trecho. Mas era um fantasma, não por já ter partido deste plano, mas era como um fantasma por parecer estar ali do meu lado no ônibus, me entendendo como escritor, e ninguém estar vendo.


No mesmo instante fiz orelha no livro (e não recomendo), demarcando a parte que eu sublinharia pra ler sempre que entrar em conflitos pessoais. Acredito que todo escritor (seja ele poeta, compositor, redator...), necessita ler Clarice Lispector, ou ao menos alguma das obras, pois além da riqueza de palavras, trás muita evolução e reflexão de si. Eu não posso dizer que substitua uma psicóloga ou psicanalista, mas lê-la, é uma tremenda terapia!


"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias..."

"...ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. Pensando bem: quem não é um acaso na vida? Quanto  mim, só me livro de ser apensa um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato. É quando entro em contato com forças interiores minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro..."