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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Não esbanje o ouro dos seus dias escutando os enfadonhos, tentando melhorar a sorte dos falhados ou abandonando a sua vida aos ignorantes, ao que é vulgar e rasteiro. São esses os objectivos mórbidos, os ideais falsos da nossa época. Viva! Viva a maravilhosa vida que há em si! Não perca nada! Busque sempre sensações novas! Não tenha medo de nada!... Um novo hedonismo - eis o que ao nosso século é preciso. O senhor poderia ser o seu símbolo visível. Com a sua personalidade nada há que não possa fazer. O mundo pertence-lhe por uma temporada... Quando eu o encontrei, vi que não tinha consciência absolutamente alguma do que realmente é, do que realmente podia ser. Dimanava de' si tamanho encanto para mim, que senti que devia dizer-lhe alguma coisa a seu respeito. Pensei que seria uma coisa terrivelmente trágica vê-lo malbaratar a sua vida. Pois a sua mocidade há-de durar tão pouco tempo - tão pouco tempo... As flores vulgares dos montes murcham, mas vicejam de novo. O codesso estará para o ano tão rútilo como agora. Dentro dum mês haverá estrelas purpúreas nas clematites, e, ano após ano, a noite verde das suas folhas será esmaltada pelas suas estrelas de púrpura. A nossa mocidade, porém, é que nunca reverdece. As pulsações da alegria que em nós palpita aos vinte anos amolentam-se e afrouxam.

Do Livro: O Retrato de Dorian Gray